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Poder nas mãos: brasileiros contam por que se renderam à casa inteligente

Tainara Rebelo

Colaboração para Tilt

Imagem: hakule/Getty Images/iStockphoto

Parecia um sonho muito distante, mas o momento de montar a casa inteligente chegou. O conceito é mais fácil de ser lembrado que explicado, basta buscar na mente o desenho dos Jetsons: uma lâmpada que acende por comando de voz, a persiana das janelas que sobe com uma batida das mãos, uma ligação por vídeo na televisão reclinável e o alarme do despertador que, ao tocar, fala a sua lista de tarefas do dia. Estamos falando do IoT (Internet of Things), ou Internet das Coisas, na tradução para o português. São dispositivos inteligentes que obedecem ao comando de voz para realizar tarefas rotineiras em casa ou no trabalho.

Foi quando começou a trabalhar de casa por causa da pandemia que a assessora de imprensa Erika Digon, 43, decidiu comprar uma lâmpada que liga e desliga só com o comando da voz. “Sempre fui a mais conectada das minhas amigas, e pensei: por que não colocar uma lâmpada inteligente para testar enquanto estou em casa?”, lembra. Com a ajuda da afilhada de 16 anos, elas instalaram a primeira lâmpada inteligente da casa e deram um grito, juntas, quando o aparelho ligou por comando de voz pela primeira vez:

Sabemos que o aparelho vai ligar, mas quando liga é algo surreal. É você sentir que tem o poder de fazer as coisas te obedecerem. Foi assim também com o influenciador digital Gabe Simas, 32. Hoje dono de uma casa super inteligente, ele conta que o primeiro contato com a tecnologia de Internet das Coisas também foi com as lâmpadas. “Mas, logo depois, comprei um Google Home para ouvir música e poder controlá-las por voz, daí descobri que conseguia desde controlar as luzes que já tinha até enviar um tweet na minha conta pelo app”, lembra. Simas disse ainda que programou no dispositivo para que todas as manhãs, ao tocar o despertador, ele já conte o que tem na agenda para o dia, as principais noticias, diga como está o trânsito entre a casa dele e o escritório, além da previsão do tempo para o dia. ”

“Ouço isso enquanto me desperto, lavo o rosto e tomo banho”, conta. Érika Digon conta que também evoluiu nas aquisições de IoT. Adquiriu uma Alexa, dispositivo inteligente da Amazon, e se tornou “sua maior defensora”. Ela gostou tanto que presenteou uma sócia com um aparelho igual. “As diferenças da Alexa na minha vida passaram da simples diversão e luxo ao foco e rotina. Antigamente eu perdia muito a hora para as minhas atividades e esquecia muito de tomar remédio, agora eu não perco mais. É diferente de ter que digitar o alarme no celular, você só pede e, na correria do dia a dia, ela faz para você. É como se fosse uma das melhores secretárias, porque ela realmente não esquece um compromisso”, explica.

Mas, nem tudo são flores. Tanta tecnologia pode trazer confusão quando a novidade ainda é recente. Na casa de Simas, por exemplo, ele, o marido e até as visitas que eles recebem em casa já tomaram alguns sustos. “Uma vez, meu pai ficou no meu apartamento enquanto eu viajava. Ele ficou aterrorizado e rezou um terço inteiro, pois a luminária do quarto acendia e apagava sozinha. A luz da escada acende geralmente às 18h e assusta as visitas que estão desavisadas na cozinha. Sempre ficam achando que tem ‘algo estranho’ ou ‘alguém’ na casa”, conta.

Simas disse ainda que uma vez ele e o marido pediu para que o Google Home tocasse ‘sons da natureza’ para deixar o cachorro ouvir. “Saímos de casa e esquecemos de tirar, quando voltamos tinha um barulho de grilo no quarto e a gente ficou procurando muito ele até lembrar que estava vindo da caixa de som”, diverte-se.

Pandemia impulsionou vendas

José Ricardo Tobias, responsável pela Positivo Casa Inteligente, que oferece soluções com esse tipo de tecnologia para residências, explica que a procura por esse tipo de tecnologia aumentou em 2017, com o boom do IoT no exterior, mas foi em 2019 que a coisa “pegou” por aqui.

“Vimos que havia a oportunidade de simplificar toda a jornada e experiência do consumidor, que ainda era muito restrita a clientes A+ [com alto poder aquisitivo]. Para isso, era preciso trazer uma solução de fácil instalação e utilização, com preço acessível e que agregasse mais comodidade e segurança às casas e vidas das pessoas”, explicou. Quando veio a pandemia, o consumidor “preso em casa” passou a buscar novas formas de simplificar rotinas e agregar mais conforto e segurança paras residências. “Entre o primeiro e segundo trimestres de 2020, identificamos o dobro do número de ativações”, diz Tobias.

Gerente de pesquisa e consultoria em Consumer & Devices da IDC Brasil, Reinaldo Sakis diz que esse mercado vai ser impulsionado com a chegada e expansão do 5G. “Com uma conexão mais abrangente e com capacidade de rodar drivers desses dispositivos, a tecnologia tem tudo para pegar. Por hora, a tecnologia ainda é embrionária e pouco acessível”, afirma. Segundo ele, outro movimento notado foi que as classes C, D e E também tiveram que fazer um upgrade nas tecnologias atuais para estudar à distância durante o isolamento social. “O consumo [de gadgets] dobrou este ano, mas ainda é cedo para acreditar que as casas e a conexão de internet disponível estão preparadas como deveria ser”, acredita.

IoT é luxo ou necessidade?

A Positivo virou a campeã de vendas no Amazon Prime Day, evento de compras da gigante do ecommerce, que dura dois dias e acontece em outubro —o que aponta para um uso menos nichado da tecnologia, que realmente parece ter sido impulsionado pela pandemia.

José Reinaldo Silva, professor do Departamento de Engenharia Mecatrônica da USP (Universidade de São Paulo), conta que, neste ano, a automatização das coisas deixou de ser uma tendência e passou a ser uma necessidade, não só nas casas como nos hospitais e nas clínicas de cuidados intensivos. Mas, ainda falta popularizar e forçar uma queda dos preços.

Segundo ele, pesquisadores na USP trabalham para mostrar, cientificamente, que os cuidados com atendimento, internação, acompanhamento e medicação, mesmo no SUS [Sistema Único de Saúde], possuem custo similar ou até menor com os kits de automação residencial. “O que deve impulsionar de fato o 5G no Brasil é a indústria corporativa, que terá os primeiros serviços com conexão garantida. Os dispositivos pessoais só darão o grande salto quando forem acessíveis, daqui dois ou três anos”, completa Sakis.

 

Fonte: https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2020/12/28/casa-dos-jetsons-conheca-brasileiros-que-se-renderam-a-internet-das-coisas.htm

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